Manus Manum Lavat.
Por Prof. º Flavio Nunes
Começo
fazendo uma citação muito interessante sobre a mão. Trata-se, da música do cantor e poeta Cazuza.
Em Maior
Abandonado, no início, diz:
“Eu tô pedindo
A tua mão
Me leve para qualquer lado”
A tua mão
Me leve para qualquer lado”
Pois
bem, sobre o trabalho com as mãos, temos vários tratados e belos textos sobre
elas. Neste, colocarei apenas uma breve reflexão a cerca de como, liricamente,
as mãos _ objeto de trabalho para muitos_ aparecem retratadas em músicas.
O
título deste texto, em latim, “uma mão lava a mão” (ao pé da letra) remete ao
que ficou conhecido desde a Idade Média, como uma mão ajuda a outra. Há até uma
canção conhecida para crianças sobre isso... Porém, o que chama atenção é o
aspecto de “auxílio”, que envolve este ditado popular. Assim, a mão adquire um
valor telúrico imenso, visto que, alguém deve segurar o outro num momento de
desespero.
Vejamos
então o que diz a letra de música Hold my Hand, de Michael Jackson e
Akon:
“This life don't last forever (hold my hand)
So tell me what we're waiting for (hold my hand)
We're better off being together (hold my hand)
Than being miserable alone (hold my hand)”
So tell me what we're waiting for (hold my hand)
We're better off being together (hold my hand)
Than being miserable alone (hold my hand)”
No início da canção, há uma frase marcante dizendo
que a vida não pode ser deixada para depois, por isso, “Segure minha mão”.
Inevitavelmente, ecoa, em nossos ouvidos os Salmos Bíblicos, aos quais nos
remetem ao retormo do Pai (“Segura na mão de Deus e vai...”). Mas aqui, temos o
eu poético solicitando a ajuda do próximo para que não fique “miseravelmente
só”. A função adquirida pela mão é de
auxílio ao outro.
Esta ideia de que a alguém deve auxiliar o próximo
está bem difundida em canções nacionais e internacionais. Levar o outro pela
mão: quem nunca teve a mão de um pai ou uma mãe para, num momento de medo_ na
infância_ para enfrentá-lo.
Um outro aspecto da mão que leva para algum lugar,
geralmente para a Natureza, pois, de certa maneira, ver o sol nascendo, por exemplo, adquire uma magnitude amorosa quando
se está acompanhado. Assim, cansado de tanta coisa ruim, o eu poético, em Telegrama,
de Zeca Baleiro, chama a mão para ver a natureza:
“Me dê a mão, vamos sair
Pra ver o sol!”
Pra ver o sol!”
Algo similar ocorre quando Tom Jobim, em Estrada do Sol,solicita que além de
ver o sol, o outro terá que...
“Quero que você
Me dê a mão
Vamos sair por aí
Sem pensar
No que foi que sonhei
Que chorei, que sofri”
Me dê a mão
Vamos sair por aí
Sem pensar
No que foi que sonhei
Que chorei, que sofri”
...não
pensar no passado, nos sonhos deixados para trás, no sofrimento causado pela
ausência. Por que deixar passar os sonhos _ matéria da Psicanálise_ para
trás? E o “I have a Dream”, de Martin
Luther King não vale mais? Ou estaríamos alienados, a tal ponto de obedecer à
regra de Jonh Lennon dizendo que o sonho acabou?
Mais
uma vez, recorro à música para entender um pouco sobre estes questionamentos.
Aqui, em Cose della Vita _sucesso de 1997 de Eros Ramazzotti_ o eu
poético, literalmente, prende o sonho para que o outro segure-o com as mãos e o
leve embora:
“Sono umani tutti i sogni miei
Con le mani io li prenderei, si perchè
What's life without a dream to hold?
Take my hand and never let me go”
Con le mani io li prenderei, si perchè
What's life without a dream to hold?
Take my hand and never let me go”
Vejamos
que este lugar do verbo ir, não identificado, serve como “qualquer lugar”,mas
não é esta a questão envolvida, de local. O que interessa é que alguém pede
para segurar a mão e nunca deixar ir (embora). Nesta linha_ do desejo, de não deixar ir embora_
Caetano Veloso, melodicamente, coloca um eu poético esperançoso por estar ao
lado de um outro andando pela praia, o detalhe, de “mãos dadas”. Temos, em Ninar Você, a concretização de um sonho:
“Bem bom viver
Andar de mãos dadas
Na beira da praia
Por esse momento
Eu sempre esperei”
Andar de mãos dadas
Na beira da praia
Por esse momento
Eu sempre esperei”
O
passeio idílico tão esperado ocorre quando há “esse momento”. Momento este, que
dá luz à interpretação do amor por meio de um simples gesto. Seria um prenúncio
de que as mãos carregam partes de outras partes do corpo? Quanto ao
sentimento? O que se espera depois das
mãos dadas?
Por
fim, encerro dando uma resposta com o abraço, pois, é necessário utilizar as
mãos para envolver o outro. Desta forma, a canção da Legião Urbana, mostra que
o abraço envolve o eu poético num êxtase para mostrar a solidão, mesmo quando
acompanhado, pois tudo parece distante, como se fosse um Tempo perdido:
“Então me abraça forte
E diz mais uma vez
Que já estamos
Distantes de tudo”
E diz mais uma vez
Que já estamos
Distantes de tudo”
*Créditos aos sites de letras de músicas: